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INTERVALO DE DESSECAÇÃO DE Urochloa ruziziensis (R. GERMAN & EVRARD) CRINS E SEU EFEITO ALELOPÁTICO NA CULTURA DA SOJA RR

Teses

Autor: Mariluce Nepomuceno
Data: Março de 2011
Palavras-chave: Glycine max, Brachiaria ruziziensis, alelopatia, glyphosate, protodioscina.

Resumo:

A soja [Glycine max (L.) Merrill] é uma importante oleaginosa cultivada
no Brasil e vem avançando em novas áreas, incluindo as de pastagens. Problemas
quanto à queda de produção são relatados por sojicultores quando utilizam pastagens
de Urochloa dessecada com o herbicida glyphosate e imediatamente semeiam a soja.
Objetivou-se, por meio de um conjunto de experimentos, avaliar os efeitos de épocas de
dessecação de U. ruziziensis (Germain & Evrard) Morr. & Zulaoga, da quantidade da
cobertura morta formada e da incorporação ou deposição desta na superfície do solo,
sobre a nodulação, desenvolvimento e características produtivas da soja transgênica
‘M-SOY 7908 RR’ no sistema de plantio direto, assim como a extração, isolamento e
identificação de substâncias químicas majoritárias de U. ruziziensis com efeito
alelopático e a sua possível relação com a precipitação pluvial. Inicialmente, foram
conduzidos dois experimentos a campo. Em Colina (SP) foram testadas quatro épocas
de dessecação da cobertura vegetal: 30, 20, 10 e 0 dias antes da semeadura (DAS) da
soja, enquanto em Jaboticabal (SP) os tratamentos corresponderam a seis épocas de
dessecação: 25, 20, 16, 12, 7 e 0 DAS. Nos dois anos agrícolas utilizou-se 1,44 kg e.a.
ha-1 do herbicida glyphosate para a dessecação. A dessecação de U. ruziziensis no
mesmo dia da semeadura da soja reduziu a altura das plantas, o número de vagens por
planta e a produtividade de grãos. A época recomendada para o manejo químico de U.
ruziziensis com glyphosate está entre 10 e 20 dias antes da semeadura da soja. Na
sequência, foram conduzidos três experimentos sob condições semi-controladas, na
FCAV-UNESP. No primeiro experimento os tratamentos constituíram da incorporação
ou deposição na superfície do solo de três quantidades de cobertura vegetal de U.
ruziziensis dessecada com glyphosate, sendo T1, T2 e T3, respectivamente, a 2,5; 5,0
e 10 t ha-1 de palha de U. ruziziensis na superfície e T4, T5 e T6, 2,5; 5,0 e 10 t ha-1,
respectivamente, de U. ruziziensis incorporada ao solo a 10 cm de profundidade. No
segundo experimento, os tratamentos constaram de três épocas de dessecação da
Urochloa: 0, 7 e 12 DAS, com uma testemunha sem Urochloa. Para o terceiro
experimento, os tratamentos foram: T1 dessecação aos 5 DAS; T2 - dessecação aos 5
DAS mas antes de semear a soja retirou-se da parcela a parte aérea da Urochloa,
deixando-se as raízes; T3 dessecação aos 10 DAS; T4 dessecação aos 10 DAS mas
retirou-se a parte aérea da Urochloa e T5 dessecação aos 0 DAS. A deposição da
palha de U. ruziziensis oriunda da dessecação com glyphosate na superfície do solo
favoreceu a nodulação e o crescimento da parte aérea das plantas de soja M-SOY 7908
RR, enquanto a sua incorporação, já a partir de 2, 5 t ha-1, causou efeitos deletérios. A
dessecação de U. ruziziensis dos 0 aos 7 dias antecedendo a semeadura da soja MSOY 7908 RR foi prejudicial a nodulação e a cultura, devido principalmente a parte
aérea da gramínea, inclusive reduzindo sua produtividade. Para a extração, isolamento
e identificação de substâncias químicas, plantas de U. ruziziensis em início de
florescimento foram dessecadas com 1,44 kg ha-1 de glyphosate e amostradas aos 5 e
10 dias após a dessecação, com uma testemunha sem a aplicação do herbicida. Da
parte aérea seca e moída destas plantas foram confeccionados extratos em hexano,
diclorometano (DCM) e metanol (MeOH), nesta sequência de extração. Por meio de
bio-ensaios de citotoxicidade utilizando os dois últimos extratos foi constatado que o
MeOH foi mais inibitório que o DCM, independentemente da aplicação do glyphosate.
Utilizando técnicas de cromatografia líquida em coluna e em camada delgada de média
e alta performance fracionou-se o extrato MeOH, utilizando água e metanol como
eluentes. As frações MeOH/água 2:2 (v/v) e MeOH/água 3:1 (v/v) foram as mais
inibitórias, novamente independentemente da aplicação do glyphosate, sendo a fração
MeOH/água 2:2 (v/v) a mais fitotóxica para a soja. Desta fração foi isolado como
composto majoritário a protodioscina, uma saponina esteroidal, que apresentou cito e
fitotoxicidade nas plântulas de soja, inclusive quando comparada aos ácidos aconítico e
o-cumárico, com dose inibitória de 50% (ID50) de 97, 160 e 186 ?M para massa seca de
raízes, comprimento de raiz e de parte aérea, respectivamente. Foram isolados ainda
outros dois glicosídeos desta fração. Pelas características das saponinas, plantas de U.
ruziziensis dessecadas com glyphosate e expostas a chuvas podem apresentar menor
teor de protodioscina e, consequentemente, menor atividade alelopática.